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Podia ser tudo mais simples, na inexistência do pensamento. Mas tal como dizia Pessoa, felizes dos que se abstêm da máquina da racionalidade, sendo felizes na sua própria infelicidade. É talvez uma das maiores angústias, a certeza da incerteza do pensamento. Uma das maiores frustrações. Não me refiro ao pensar da razão kantiana, mas da projecção das nossas dúvidas teóricas em relação a questões práticas do quotidiano. Não saber agir sobre as infinitas possibilidades de um acto, de uma decisão que causa ruptura. A fragilidade inerente a sermos nós próprios é sempre de dificil digestão e por isso mesmo, vamos mastigando os pormenores da vida como se não fossem nada, como se neles não coubessem, tantas vezes, as verdadeiras motivações para estar vivo. E ai outra questão, da vivência à sobrevivência vão apenas dois segundos, mais vezes que o desejável, ou até mesmo sempre. E nessa ténue diferença não existe resitência suficiente para ser frágil e ser inteiro, para ter medo e até para não o ter.
Os paradigmas ganham força e propiciam o caos.
De facto, então, há mesmo alturas em que não sei bem o que dizer. Não porque não haja nada a conversar, ou a falar, mas talvez precisamente por haver tudo. E na multidão de pensamentos, palavras e sentires, não é fácil encontrar os unicos que devem ser encontrados, deixando perder todos os outros.
Não é fácil ser-se gente, entre gente. Não é facil ser-se sozinho. É dificil sermos nós próprios.