Monday, April 30, 2007

Quando a saudade rebenta e o corpo encolhe ao se dobrar sobre si mesmo, é bom saber que parte da distância se engole pela voz [de fora – para dentro], na certeza de um amanhã que terá, necessariamente, de ser ainda mais bonito.
Agora, até da chuva se arquitectam as cores, mais vivas, e no cinzento se restaura a vontade dos encontros e de sair à rua, respirar aquele sol que se escapa das nuvens, por entre os espaços vazios, quando as mãos se dão e os dedos se trocam, ali, onde não faz sentido o eufemismo.
E não é simples, sabes, nem sequer é fácil.
Fogem-me as palavras da ponta da língua e dos dedos, na tentativa de as agarrar, para falar de ti. É difícil encolher-te para caberes, e elas não são elásticas nem se prendem.
O silêncio, esse, amplia-se e diz muita coisa, joga com os olhares que vêem mais perto, sentem mais forte e mexem mais fundo.
Afinal, no fim do dia, quando as mãos tremem e do corpo já só se solta o arrepio, o que a gramática não expressa, um beijo agarra, o abraço segura e o contentamento do ritmo cardíaco, mais próximo, ingere o ar e abrevia as inquietações do peito.
Envolves-me então, nessa concomitância de paladares, confundes-te com os sentidos, constrói-se a teia, turva-se o tempo, e os momentos invadem.
Acrescentas-me. E eu gosto...

Tuesday, April 24, 2007

A modos que...

É pela forma de como rasgas o sorriso, por ser único, não podia gostar tanto de qualquer outro, porque não seria teu.
É pela forma de como conjugas os verbos “amigo” e “gostar”, porque todas as asneiras do mundo não são suficientes para desprender a forma de como os absorves e de como o horizonte te desvia o olhar ao falar deles.
Porque as tuas frases, escritas e faladas, me levam em viagem sempre que as leio, sempre que as penso – sim, fazem-me pensar.
Por seres inteligente, por seres tão maior do que julgas, mesmo quando em bicos de pés, por teres fome de “mais e mais”, por ires em busca.
Pelos pormenores que tens, que gostas, que notas, que és.
Porque és criança e és mulher, porque vives, porque és espontânea.
Porque gosto da tua maneira de falar e do que falas, como falas, como sentes, como queres sentir.
Porque me fazes esquecer o tempo…
Porque gostas de amarelo, de dados e botões, porque vestes o arco-iris, junto ou separado, porque lhe acrescentas cores.
Porque gosto da tua camisola da Nike, e de te ver com ela.
Porque gosto da forma do teu rosto e de te ver de óculos.
Porque é bonito, porque és bonita.
Porque gosto dos arrepios e de te cantar ao ouvido.
Pela tua meiguice.
Porque a luz da cidade, em reflexo nos teus olhos, é perturbante.
Porque me tiras do sério, me levas o medo e a vergonha e o mundo à volta se transforma em miragem.
Porque me mostras coisas novas, porque me deixas apontar-te outras.
Pelas tuas reflexões e pensamentos nocturnos ou matinais.
Pelas mãos frias e coração quente.
Pelo beijo...
Porque seja o que for, o que foi já é.
Porque não se explica o que não tem explicação.
Porque o que te torna especial, está em seres assim, quem és.
Porque gosto de ti, porque és tu, e mais ninguém.

Sunday, April 15, 2007

pela janela

Assusta-me ligeiramente a vida, as vezes, enquanto escuto o que o ritmo da chuva na janela me vai dizendo, cá dentro, enquanto penso que não há muito tempo, nessa mesma janela, era o sol que batia, e a única água que invadia os pensamentos era a do suor, do corpo no corpo. Nessas vezes, ao beber leite quente, que aprendi a gostar agora, enquanto está frio lá fora, lembro-me que ela passa depressa, que corre e nós não corremos sempre com ela, ou então, corremos vezes demais.
Assusto-me quando acordo, hoje, e já é amanhã. Quando o tempo em que dormi, tantas horas, se passou entre um abrir e fechar de olhos, que tantas vezes não basta sequer para dar um passo em frente.
Preocupa-me a falta de ousadia e a ousadia maior, o desapego do melhor timing para tudo e para nada, este viver de contra-corrente ou favorecendo demais o gradiente de concentração.
Revolta-me a inércia e o atrito.
Enerva-me a força da gravidade que não para de cair, e o peso que vai pesando sempre, da mesma ou de qualquer outra maneira.
A vida intimida-me, amedronta-se, sempre que me comovo com ela, todos os dias, quando o pormenor da esquerda passou a fazer sentido somente na direita porque debaixo dele dezenas de outros se agitam em trabalho de parto.
Sim, a vida assusta-me ligeiramente, ás vezes…
Mas só às vezes, quando o coração palpita mais irrequieto e os olhos se espraiam ansiosos, para lá dos horizontes do tacto, nesses olhares, pela janela.

Saturday, April 14, 2007

O que se ouve [e se canta] no “UFA!..que já nos safámos” (carro da Sarita) às 02:00 da manhã:
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Quando a cabeça não tem juízo
Quando te esforças mais do que é preciso
O corpo é que paga
O corpo é que paga
Deixa´ó pagar deixa´ó pagar
Se tu estás a gostar
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Quando a cabeça não se liberta
Das frustrações, inibições toda essa força,
Que te aperta,
O corpo é que sofre
As privações, mutilações.
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Quando a cabeça está convencida
De que ela é a oitava maravilha
O corpo é que sofre
O corpo é que sofre
Deixa´ó sofrer deixa´ó sofrer
Se isso te dá prazer
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Quando a cabeça está nessa confusão
Já sem saber que hás-de fazer, e já és tudo o que te vem à mão
O corpo é que fica
Fica a cair sem resistir
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Quando a cabeça rola pró abismo
Tu não controlas esse nervosismo
A unha é que paga
A unha é que paga
Não paras de roer
Nem que esteja a doer
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Quando a cabeça não tem juízo
E tu não sabes mais do que é preciso
O corpo é que paga
O corpo é que paga
Deixa´ó pagar deixa´ó pagar
Se tu estás a gostar
Deixa´ó sofrer deixa´ó sofrer
Se isso te dá prazer
Deixa´ó cantar deixa´ó cantar
Se tu estás a gostar
Deixa´ó beijar deixa´ó beijar
Se tu estás a gostar
Deixa´ó gritar deixa´ó gritar
Se tu estás a libertar “
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Variando com o variações, até porque combina bem com o vermelho do automóvel e o desprendimento do travão nos percursos. :D

Thursday, April 12, 2007

Hoje não fugi da chuva, molhei-me.

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"As confidências demoram-se no céu da boca
como as nuvens lentas do Outono. Sopro-as,
para que o céu se limpe e apenas uma névoa vaga
se cole ao que me queres dizer; mas
encostas-me os lábios ao ouvido e tu, sim,
é que me contas que céu é este, e de onde
vêm as nuvens que o cobrem. Sentimentos,
emoções, paixões, interpõem-se entre
cada frase. Nem há outros assuntos
quando nos encontramos, e me começas a falar,
como se fosse o coração a única
fonte do que dizemos."


Fons Vitae
Nuno Júdice
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Há vozes que falam assim, baixinho, em jeito de sussurro, a medo.
Desde que a mensagem não se perca e o calor não se difunda da ponta dos dedos e do rubor dos lábios, o tom e a tonalidade do diálogo, somente servem de aconchego ao batimento cardíaco e aos sorrisos que se rasgam por detrás da orelha...
Mesmo quando não há nada a dizer, ou tudo o que se diz já foi dito.
Mesmo até, quando em curto-circuito de emoções paralelas.

Monday, April 9, 2007

Before the Sunset

Photo Sharing and Video Hosting at Photobucket
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(Da BSO do filme)
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Absolutamente fantástico.
Que explosão de cor – de detalhes. Fome de loucura, de paixão, de romance, não [só] por alguém, mas na/pela vida. Talvez por isso goste tanto deste filme, sempre que o vejo e revejo, é um hino aos pequenos pormenores de tudo o que é bonito, a tudo o que a vida devia ser, como gostava que fosse. Nem tudo é perfeito, nem deve ser e sou feliz por se conceber assim, nessa epopeia de coisas estranhas, novas e velhas, boas e más. Mas justamente por isso, mesmo que contida num pano de fundo mais pálido, o desenho pode ter sempre todas as cores com que o desejarmos pintar. O mundo é um lugar de oportunidades e de encontros, fortuitos, alguns, deliberados, outros, mas todos importantes, no seu espaço, no seu tempo e para os intervenientes que desencadeiam o vórtice.
Afinal, na casualidade existente entre um nascer e um por do sol, tudo pode acontecer, pelas ruas transbordantes de Veneza, num café de paris, ou até mesmo aqui, dentro dum olhar sobre Lisboa.
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“Sou obcecada em pequenas coisas. Talvez seja tola, mas quando era pequena, a minha mãe dizia-me que eu chegava sempre atrasada à escola, e um dia seguiu-me, para perceber porquê. Disse-me que eu ficava a ver as nozes a cair das árvores, a rolar no passeio, as formigas a atravessar a estrada, a sombra de uma folha num tronco...pequenas coisas. Acho que é o mesmo com as pessoas. Vejo os pequenos pormenores, tão únicos, em cada uma delas, que me tocam e de que tenho e terei sempre saudades. Nunca podes substituir alguém porque toda a gente é feita de pequenos detalhes lindos e únicos. Como a tua barba, recordo-me como era ligeiramente ruiva no queixo, e de como o sol a fazia brilhar, naquela manhã, mesmo antes de te ires embora. Recordava isso e tinha saudades. Uma maluqueira, não é?” Celine in Before the Sunset (A não perder o filme anterior, Before the Sunrise)


Tuesday, April 3, 2007

Photo Sharing and Video Hosting at Photobucket
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Soltar as amarras.
Deixar que as pegadas se desprendam dos pés e sigam sozinhas os seus caminhos, ousar para que se prolonguem além das pernas e da visão, dos seus ângulos mortos.
Abraçar esse abraço num só acto falhado, sem retorno e sem retrocesso.
Caber num simpósio imaginativo, construtivo e abstracto, na concomitância de sabores e paladares que têm para ofertar ou auferir.
Jogar as mãos para fora da janela e permitir que o corpo inteiro se entregue ao movimento uníssono desse desejo, tolerando que se liberte e que tenha vontade própria. Deixar que se parta, que tenha medo. Deixar que viva.
Encolher as palavras num momento, ouvi-lo baixinho, fotografá-lo, guardá-lo na memória ou debaixo da almofada. Aprender a amá-lo, assim, distante, pequeno, do seu tamanho.
Conseguir relativizar e desligar o botão certo. Criar um botão certo.
Saber do trilho e ir.
Utopia. A minha.