Friday, July 9, 2010

"Devagar, o tempo transforma tudo em tempo.
o ódio transforma-se em tempo, o amor
transforma-se em tempo, a dor transforma-se
em tempo.

os assuntos que julgámos mais profundos,
mais impossíveis, mais permanentes e imutáveis,
transformam-se devagar em tempo.

por si só, o tempo não é nada.
a idade de nada é nada.
a eternidade não existe.
no entanto, a eternidade existe.

os instantes dos teus olhos parados sobre mim eram eternos.
os instantes do teu sorriso eram eternos.
os instantes do teu corpo de luz eram eternos.

foste eterna até ao fim.”

José Luís Peixoto


E finalmente, começa a transformar-se em tempo.

De uma neblina roçando o dramático e mesmo que ainda (ou enfim) diante uma caminhada que se avizinha longa e complicada, vão surgindo alguns momentos de tranquilidade e paz.

O cansaço, o estreitamento da paciência e até alguma amargura vai-se dissolvendo em pequenas colheradas de doce de framboesa que comecei recentemente a gostar.

Vivo rodeada de tantos detalhes, de circunstâncias que me enriquecem e aos quais não tenho dado importância. Inundo-me tanto de mim própria e dos meus sôfregos sofreres que raramente me dedico verdadeiramente algum tempo, tempo de qualidade. No entanto, nos parêntesis que a rotina diária me tem proporcionado, criou-se felizmente um espaço de um certo contentamento espontâneo, de contenção pessoal, de enriquecimento e descoberta de quem sou e me vou tornando diariamente. Os núcleos que me preenchem tornam-se mais reduzidos, menos expansivos, mas em contrapartida vivo-os com muito mais intensidade. E que seja o que for, como disse uma vez à S., seja lá o que for, o que foi já é, e já é o bastante (ainda que me mantenha uma eterna inconformada - e ainda bem!).

Alegro-me. E dessa alegria, até as soluções que pareciam tão inexistentes vão brotando agora dos silêncios que vou procurando, sozinha.

Vamos então a isso, a estrada foi feita para andar!