Sunday, January 2, 2011

Dicotomia...Vivo-a com uma intensidade quase extrema nos dias de hoje.

Numa dualidade quase arrebatadora, quase demasiado frustrante, ou não fosse ela, uma dicotomia. Pelas ruas fora só se fala de arredondamentos, para a ajuda de berço, para a AMI, para um abraço extra, para uma percentagem final de felicidade, de constrangimento, de objectivos, de sobrevivência. De um encolhido para o outro, a destreza com que sacodem a água do capote atinge as proporções de uma perícia quase contagiante. É incrível! Tenho feito um esforço continuado para argumentar melhor nestas situações, ouvir melhor, aprender melhor e claro, condescender menos, muito menos. E talvez por aqui possa falar deste antagonismo que vivo, quase “brechtiano”, de amor e raiva, energia e desapontamento, vontade e desalento, que me invade em várias frentes e de diferentes maneiras. Começa pelo relógio que aponta 7 da manhã para mais um dia, revolve pelas encruzilhadas políticas e demagógicas, pela psicologia do outro que procura a minha e culmina as 22 da noite, quando o dia está quase a terminar e encontro espaço para o desconstruir e descansar o corpo. Foi um ano incrível, sem dúvida. Detestei-o, amei-o! Começo a perceber que se me dedicar a escrever sobre os anos que estão para vir, possivelmente a tendência será basicamente a mesma, um “in between” quase constrangedor. Não consigo expressar a alegria e o entusiasmo que trago dentro pelas oportunidades que tive, as pessoas que conheci e a forma de como me arrancam vontade onde julgava que ela não existia, de como rasgam o cansaço em dois e o transformam em movimento. As palavras trazem uma imensidão de silêncios que não se preenchem em estimativas ou retrospectivas, ou não fossem as aprendizagens interiores muito pouco quantificáveis matematicamente. Mas que é avassaladora a sensação, é, de facto. Foi um ano de privilégios, sim, privilégios, no encontro dos outros e de mim própria. Mas foi também um ano de alguns desapontamentos, alguns deles, mais profundos do que imaginava poderem ser. De ponderação de pilares, de alguns “check mate” mentais, de outros tantos fracassos e inevitabilidades menos agradáveis.

Mas no fim de contas, estou mais em paz com as minhas opções e convicções. Menos intensa em algumas coisas, mais intensa noutras. Sou menos amiga de toda a gente, mais amiga de “alguma gente”. Tenho mais vontade de não baixar os braços e custa-me o dobro da energia agora, não o fazer. Penso mais nas consequências de alguns actos, penso cada vez menos nas consequências de outros. Revolto-me nas causas e perco-me nos meios, ainda assim. Seja como for, o esforço continua a ser no sentido de não parar, de não desistir, de ir de encontro às ideias, em vez de apenas o contrário. De usar-me do tempo, como se não tivesse espaço, transformando-o no melhor que conseguir. De continuar a descobrir e a seguir a deixa da Florbela Espanca.

Bom ano a todos. Não deixem cair os ombros.