Friday, August 22, 2008

"Excuse me
But I just have to
Explode
Explode this body
Off me
I'll be brand new
Brand new tomorrow
A little bit tired
But brand new"

Pluto - Bjork

Tuesday, August 19, 2008

quem espera, em cascais.

Iam duas mãos (dadas) a passear pela rua.
Traziam os corpos de rojo, como corrente eléctrica.
Os rostos, inexpressivos, eram quase estáticos no movimento, mas as pálpebras caíam e voltavam a abrir, mecanicamente. Os corpos eram iguais, pelas ruas. Um escuro, outro mais claro. Os dedos pareciam vincar a pele, numa espécie de fusão, ou de perda de identidade, não sei. O passo ia lento, mole, arrastado...e ao mesmo tempo certo, sincronizado.
Pararam na estação.
As mãos continuaram dadas, e continuavam a ser só mãos, mas desta vez sobre a pedra do banco cinzento.
Continuou o silêncio.
Continuaram a cair sobre si mesmos, as mãos que passeavam na rua, mais as pálpebras e a rotina que se manifestava no vácuo. Duas pessoas que não libertavam calor, só electricidade, "de estufa".
Chegou o comboio.
Chegaram as pessoas.
Chegou um olhar que quebrou a corrente. As mãos largaram-se, por instantes, e do vazio ouviram-se os olhos, as mãos, o corpo e a boca a gritar ao mesmo tempo: "Vai-te foder!".

the end.

Sunday, August 3, 2008

Fazia-se sentir um eco estranho.
Copos que se partiam sem fazer barulho, pessoas que se moviam sem dizer nada, e nas paredes, um vazio esquisito que lhes pintava a cor, que surgia em cada momento das pequenas trocas, na vida, em de-redor.
Na rua um abraço, algumas conversas mais de dentro, outras mais para fora. Um amigo que já não via há muito, outros que vieram de longe, novos. Na rua um beijo, e outro, e mais um porque se dão dois na despedida. Na rua, um sorriso e uma gargalhada surgida de um instante verdadeiro. Um parapeito de vivências. Na rua a vontade e alguma preguiça de ir embora. Na rua uma rotina, um fim e um começo.
Na rua. Um livro. Abro-o para lhe sentir o gosto, em cada página, quando me debruço sobre ele, chegada depois a casa. Em cada letra um dislimite de equações, direcções e enquadramentos, como se em todos os poros coubessem mundos e em cada um se dilatassem todos os outros, ao mesmo tempo. Porque a literatura se dispersa em nós e nos transforma. Porque, como me disseram, escrever “prescreve” os males, os anseios, as frustrações e até a alegria de momentos.
Porque, por vezes, pequenos momentos, algumas horas, alguns minutos, valem-se por dias inteiros, bastam para engrandecer dias e mantê-los vivos. Mas outras vezes, não. Porque um dia são 24 horas, e o tempo é uma vida inteira.
Porque se sou a maior constante, que me baste, que não me baste...mas que me baste.
Porque (um) a palavra, que não diz nada (ou não é nada), as vezes tem de ser tudo.
Mesmo com revolta.
Mesmo contragosto, porque há "gostar".
Portanto, vou para baixo e vou bastar-me, na rua e em casa e em qualquer outro lugar.
Há que tentar.
E conseguir, eventualmente.