E heis que chega a altura de concretizar uma ideia, de
fazer, de começar, de ir.
Vou. Vou tão sem medo pela imensa agonia de todo o medo que
tenho. Vou sabendo que do que respiro agora não sobra nada com força para
construir o que quero, preciso de ser depois. Vou porque não há outro modo de
ficar ou pertencer. Vou embora comigo e sem mim, para onde o clarão ainda se
avista para lá de tudo o que entretanto se colocou no caminho. Vou, dilatando o
cansaço num copo cheio de tanto que já não cabia em mãos cheias de coisa
nenhuma. Vou porque o corpo, conservador, dava já sinais de desistência. Vou de
mãos dadas e no conforto do aperto securizante quando as pernas ameaçam
fraquejar. Vou porque me doem os pés do caminho e do caminho se faz a vida inteira,
onde descubro constantemente o intento. Vou porque quero caminhar. Vou de peito
aberto e na coexistência da raiva e do amor. Vou porque o ódio paralisa e só a
esperança revoluciona. Vou pela contenda, pela luta. Vou porque só indo posso
fazer o combate. Vou porque, lado a lado, sei que tenho comigo o arrepio de
coragem que faltava. Vou porque, entre a razão e a emoção encontrou copa o seu
melhor equilíbrio. Vou. Vou porque não posso ficar. Vou antes que o tempo faça de mim tempo.
Vou.