Thursday, February 15, 2007

- Tempo e Espaço -

“Aqui, onde um imenso campo se estende ao meu redor, sobre o qual o vento passa vindo dos mares, aqui, sinto que nenhum ser humano, em nenhum lugar, pode responder por si àquelas perguntas e aos sentimentos que na sua profundidade interior têm vida própria; pois mesmo os melhores erram nas palavras quando estas são dedicadas a significar as coisas mais delicadas e quase indescritíveis.”
(…)
Seja paciente perante tudo o que não tem solução no seu coração e tente amar as próprias perguntas como quartos fechados e como livros que são escritos numa língua estrangeira. Não procure agora as respostas, que não lhe podem ser dadas porque não poderia agora vivê-las. E a questão é, viva tudo. Viva agora as perguntas. Talvez então, gradualmente e sem se dar conta chegará a um dia distante em que obterá a resposta
(…)
A sua solidão será um refúgio e um lar para si mesmo entre condições pouco familiares, e a partir daí, poderá encontrar todos os seus caminhos”.

Rainer Maria Rilke
in “Cartas a um Jovem Poeta"

E como se as palavras nos engolissem, nos alentassem para o que estará para vir e nos acolhessem depois do que já foi – e do que está a ser – qualquer coisa no limite, se exalta, de dentro, todos os dias.
Alguns falam-nos da inevitabilidade do acaso nos dias e outros, dos dias no acaso.
Alguns cogitam, entre dentes, que todo o passo, atrás de passo, é mero ditado ou transgressão linear, na qual não temos qualquer papel de relevo.
Eu prefiro pensar em contraponto, em circunstâncias e naquilo que elas trazem, de bom e de mau.
Prefiro falar de vontade, desviar caminhos, prefiro bater o pé com força!
Prefiro dizer que não, prefiro dizer que sim, prefiro não dizer nada e ter esse direito.
Prefiro ser indiferente, fechar os dedos, “encasular-me”, trancar-me, esconder-me, tapar-me, perder-me… e encontrar-me, se quiser.
Prefiro ser puzzle e desmontar-me, metamorfosear-me, como o tempo, tal como nos quadros de Dali, em que é disforme, em que se abre, onde se contorce e se fecha no seu próprio fanatismo, imperceptível, estranho e incessante.
Prefiro ameigar-me assim como o espaço que não tem espaço, que engorda e emagrece, sem caber por inteiro em lado nenhum.
Resigno-me, porém, a essa ambígua incerteza, clivada e borderline, na dúvida inquilina da metafísica dos momentos e das emoções, e aprender a manuseá-la, a namorá-la, chegar a amá-la e a desejá-la - essa irresolução caótica e desorganizada que chegou e sabe chegar sempre, sabe ficar e fica sempre.
E o dia, esse que é longínquo, chegará eventualmente. E terá todo o tempo, terá todo o espaço e saberá caber e conter-me a mim, em simultâneo.

Jo.

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3 comments:

Kai Mia Mera said...

Por fim e por teus próprios caminhos estás a entender a verdadeira essência do ser solitário. Ser esse que é constituído por vários “EGO’s”, que saltitam do social para o solitário e vice-versa. É necessário as duas dimensões para que o ser se transforme em toda a sua plenitude, chegando deste modo a elevar-se!

Só na nossa dimensão “do solitário”, é que somos o nosso verdadeiro Ego, estamos camuflados por vários papeis, e quando atingimos a “essência” e não temos receio de ouvi-la e com isso aprender com o sofrimento que essa melodia acarreta, e ver que tudo passa de um processo necessário para o nosso crescimento interior, ai sim atingimos a riqueza do Ser em si, do Ser em Mim.

E o dia chegará com tanta pujança que trará um céu de um azul inexplicável e consigo um arco-íris das cores mais puras e mais belas!

Beijinhos,
Mari

P.s. Talvez as palavras não sejam as mais pomposas para inaugurar este teu espaço, mas foram as que me saíram da alma, com todo o carinho e amizade que nutro por ti!

Satya said...

"Não há aqui que medir forças com o tempo, um ano não importa e dez anos não são nada. (...) Ele vem. Mas vem apenas para os pacientes, que ali ficam como se a eternidade os aguardasse, tão despreocupada, calma e grandiosa. Eu apr endo diariamente, aprendo-o com a dor à qual estou grato; a paciência é tudo."Rainer Rilke

Achei que com esta citação do livro, era a melhor forma de responder ao teu comentario, e de me rever novamente nele. :D

Ps: As palavras não têm de ser pomposas, apenas sentidas. Agr sei que o são, verdadeiramente, sem "politiquices" ;) :P

Kai Mia Mera said...

Nem imaginas o prazer que me dás ao saber que o uma pequena prenda, como esse livro do nosso amigo Rilke, te fez e te faz tão bem, que o gostas de (re)ler.

Sempre que o leio é uma nova e agradável descoberta, parece que se abrem novas perspectivas, novos horizontes!

Ainda bem que sentiste que não eram "politiquices", são sentidas, transmitidas, talvez, de uma maneira trapalhona. ;)

P.s:"(...)um ano não importa e dez anos não são nada. (...) Ele vem. Mas vem apenas para os pacientes, que ali ficam como se a eternidade os aguardasse, tão despreocupada, calma e grandiosa." por isso "desisto, baixo as armas" :)