Thursday, January 10, 2008

Turbilhão


As vezes, sou só eu e a estrada. Eu e os pensamentos e ideias, eu e as emoções na pele e na musica que grita mais fundo. Sou eu e o acelerador de memórias, de reflexões, da concomitância da vida; sou eu e o acelerador do carro, que não quer travar e não trava, nem os pneus nem os percursos e o desafio que oferecem, nem sequer as palavras, nem sequer o silêncio.
Afinal, a verdade é que as aparências iludem e escondem muita coisa. Camuflam identidades, carácter e personalidade; tapam inseguranças e tanto medo; guardam pessoas, fecham-nas, emparedadas no tempo perdido. Há momentos e pessoas que nos projectam e em quem nos projectamos desmedidamente, que nos guardam, onde as guardamos e onde se despem as representações do figurino, ficando nuas, cruas, irrelevantes. Nesse instante, então, pessoas e momentos tornam-se somente pessoas e momentos, descompensam-se as defesas e transbordam-se limites que, pela sua nudez, deixam de existir com clareza.
Um sujeito é um mundo, o seu, e o nosso. E na verdade somos todos um pouco uns dos outros, mesmo sem nunca pertencer a ninguém. A figura do estranho avizinha-se querida, quando o estranho maior somos nós.
E é nestas alturas que os olhos se fecham somente para se abrirem e notarem que, afinal, já não sou só eu e a estrada, e o travão pesou mais que o resto do caminho. Agora, sou eu e o passo em frente. Por isso mesmo, hoje eu gritei “Ok!”, e eles gritaram “Ok!”, e a dor e alegria, em uníssono, gritaram “Ok!”. O medo veio à baila, a ternura brotou dos olhos chorosos, mas controlados. As gargalhadas esconderam a sensação de perda; a perda escondeu a noção de liberdade e a liberdade encobriu o passado e a solidão.
A vida, agora, é para viver e é um ganho de uma maneira que só a imagem percepcionada pelos meus olhos poderia melhor clarificar.
A perspectiva que temos quando o mundo se parece transformar num berlinde, naqueles abraços apertados contra o peito, abraços que agradecem com sofreguidão o rumo que podem, finalmente ter, puxa-nos a imunidade sentimental e solta pensamentos que nos engrandecem e que, mesmo que só por alguns instantes, nos torna melhores e maiores pessoas.
hj, foi qualquer coisa sem nexo.

2 comments:

Anonymous said...

Eu li tudo do inicio ao fim, até o li mais que uma vez mas não foi à procura do sentido porque na verdade até tem muito nexo. (mas eu tambem sempre me dei bem com a desorganização, portanto...) .li e re-li para que me viesse algo que eu podesse dizer aqui neste espaço que é suposto acrescentar alguma coisa (quanto mais não seja um sorriso em ti com uma parvoice qualquer) mas não me veio nada nem a cabeça nem á boca... andou perto da boca do estomago mas não saiu de lá. estas tuas palavras tocam(me).
beijo
s.

Anonymous said...

"e n digo coisa com coisa mas dizer coisa sem coisa as vezes tb é fixe"
s.