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Sim, ainda me assusta, por vezes, a dor de seguir viagem, com (ou sem) rumo, mesmo que por prazer. Ainda espreita, de soslaio, a imagem dessas memórias, que tão veementemente tento guardar para mim.
Como se, por instantes, fosse possível perdê-las, completamente.
Como se, na sua essência, o que me trouxessem pudesse ir embora, de repente.
Como se o tempo pudesse voltar atrás.
Como se eu quisesse
– e não quero.
Por esta altura, sento-me junto da ria formosa, com a brisa marítima que vem no vento e me envolve o corpo, fazendo esvoaçar o cabelo. O cigarro está aceso na mão, assim como os pensamentos que vão entrando em combustão com ele. Por vários momentos que se prenderam num apenas, tudo fez sentido e nada teve sentido algum. Como se pela tranquilidade do lugar, onde a noite já caiu sobre as janelas, escuras agora, os pormenores coubessem, inteiros, na palma da mão, dando-lhes outro significado. A noção, nem sempre clara, de que poucas são as coisas que saem do cinzento, entre o preto e o branco, apesar da tendência para tudo transformar no monocromático, vem transbordando assim o ambiente, quotidiano. Um choque racional, emocional, o que interessa, um choque (Afinal, não tem mal, o que importa, o que não importa?)Qualquer coisa que se vai metamorfisando a si mesma, sem eu dar por isso, ganha corpo. No conjunto em que nos vamos construindo vem um mundo inteiro, até mesmo o medo. E, no final, não aconteceu nada, para além dos constantes paradoxos. Até porque, nesta madrugada, o cigarro acabou, mas apenas o cigarro, nada mais.
26 de Agosto, Santa Luzia
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