Saturday, March 24, 2007

Diamante de Sangue

A melhor oferta, do sensacionalismo que a maioria dos filmes Americanos nos oferece, é este sentimento trémulo, por dentro, o nó na garganta. Mesmo quando é uma merda, quando não vale nada, parece que chocalha qualquer coisa, abana, puxa para fora, grita por mais, quer mais, faz por mais, por ser mais, mesmo que apenas por uns instantes, mesmo até que no fundo não se faça nada, nem se diga nada, nem se chore nada. De algum modo, mesmo assim, faz-nos crescer ligeiramente no altruísmo e um pouco mais no egoísmo em simultâneo. Emocionamo-nos com a música e com a força dos actores, desiludimo-nos com o desperdício de uma grande história, de ficção, e revoltamo-nos com a verdade que está por detrás dela.
E só de pensar que todas as historias que vemos, que se fazem transparência nas imagens e nas vidas que lemos e ouvimos, bem como em todas aquelas que tão-pouco conhecemos, supomos existir ou sequer conseguimos imaginar, batem na porta do lado, no país do lado, no continente do lado, algures…neste mundo fora, agora, ontem ou amanhã, só de pensar que tudo o que é real engole qualquer palavra ou qualquer bom papel, arrepia-me pela espinha e pelos cabelos, pela emoção, pela raiva, pela enormidade e bestialidade do ser humano.
Tudo isso fervilha nos momentos finais, durante a legendagem que conclui a longa-metragem, absorvida pela melhor melodia da banda sonora, tudo isso salta pelos olhos e pelos sorrisos ligeiros que se trocam quando não se tem nada a dizer, quando não se sabe dizer nada, quando não se entende nada, não se compreende, quando nos esquecemos que é verdade e nos lembramos que gostávamos de estar com alguém nesse instante, como se uma katana estivesse à nossa espera lá fora. Como se não estivesse mesmo. Quando nos lembramos do carpe diem ao nos tremerem os dedos a escrever uma mensagem que não enviamos, mas que relemos vezes sem conta a pensar se será adequada, quando a apagamos, quando logo em seguida nos damos conta que o filme, que surtiu efeito, não surtiu efeito nenhum, e que o que nos lembramos de fazer e de dizer, o que nos permitimos sentir, já não faz sentido algum, porque ninguém nos olha para dentro, quando estamos de fora, e porque feliz ou infelizmente a telepatia continua a ser só uma miragem, um poema e uma letra de canção. Quando o carpe diem fica para outro dia, que amanhã o sol também renasce, até porque na verdade, nunca morreu.

“Diamante de sangue” então, não sei se vale o dinheiro – até porque o vi em casa – mas vale pelo menos pelo que nos faz lembrar, mesmo que seja para depois esquecer. A vida segue lá fora, em todo o lado e é sempre tão diferente, mas tão igual, que nos faz a todos irmãos e estranhos ao mesmo tempo.
Vamos sair de casa de uma vez! Ou então, entremos todos, e aprendamos a dar aquele abraço, que realmente, “aproxima os corações”.

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